Até o momento, a investigação da Polícia Federal (PF) não explica o motivo de o plano para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes não ter sido levado adiante.
Para o ministro chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Paulo Pimenta, a conclusão do plano “não ocorreu por detalhes”. A declaração foi dada em coletiva de imprensa no segundo dia de Cúpula do G20, na terça-feira (19).
O documento com detalhes para execução de autoridades, como parte da arquitetura de um golpe de Estado, foi elaborado pelo general do Exército da reserva e ex-assessor de Jair Bolsonaro (PL), Mario Fernandes.
O militar é um dos cinco presos no Rio de Janeiro ontem (19), durante a Operação Contragolpe da Polícia Federal. Também foram presos um policial federal e outros três tenentes-coroneis. Os quatro militares membros do grupo “kids pretos”, nome dado a militares das Forças Especiais (FE) treinados para atuar em missões sigilosas e em ambientes hostis ou politicamente sensíveis.
Segundo a decisão de Moraes, que embasou a operação da PF, o documento foi considerado como “um verdadeiro planejamento com características terroristas, no qual constam descritos todos os dados necessários para a execução de uma operação de alto risco”.
As mortes de Lula, Alckmin e Moraes deveriam ocorrer em dezembro de 2022. O planejamento operacional da organização era chamado de “Punhal Verde e Amarelo”.
Segundo o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, os suspeitos “chegaram muito perto” de atingir o objetivo.
Confira a seguir algumas das perguntas ainda sem respostas sobre o caso:
- Como matariam Geraldo Alckmin?
O documento de Mario Fernandes não descreve como matariam Geraldo Alckmin, mas afirma que o objetivo era também executá-lo para “extinguir a chapa presidencial vencedora do pleito de 2022”.
Na investigação, há o detalhamento apenas do plano de morte de Lula, que poderia ocorrer por envenenamento ou uso de químicos, e de Alexandre de Moraes.
“Foram consideradas diversas condições de execução do ministro ALEXANDRE DE MORAES, inclusive com o uso de artefato explosivo e por envenenamento em evento oficial público”, diz a decisão que embasou a operação da PF.
- Por que em 15 de dezembro, já nas ruas, abandonaram cerco a Moraes?
A investigação da PF diz que os criminosos se posicionaram para uma ação no dia 15 de dezembro, mas a missão foi abortada em cima da hora. De acordo com as autoridades, nesta data “possivelmente, seria realizada a prisão/execução do Ministro ALEXANDRE DE MORAES”.
Os militares, que se comunicavam pelo aplicativo Signal em um grupo chamado “Copa 2022”, estavam posicionados às 20h33 daquele dia, mas às 20h59, a operação foi cancelada.
No grupo, os criminosos utilizavam codinomes: eles eram chamados de Alemanha, Áustria, Brasil, Argentina, Japão e Gana.
“Às 20h57min, Áustria escreve: ‘Tô perto da posição. Vai cancelar o jogo?’. Dois minutos depois, o usuário ‘teixeiralafaiete230’, responde: ‘Abortar… Áustria… volta para local de desembarque… estamos aqui’”.
Antes da decisão de cancelamento, foi encaminhada no grupo a informação de que sessão do STF daquele dia havia sido adiada. A investigação não esclarece, porém, porque a sessão seria determinante para a execução do plano.
“O contexto das mensagens trocadas indica que a ação desenvolvida tinha relação com a notícia do adiamento da votação que estava sendo realizada naquele dia no Supremo Tribunal Federal. No dia 15/12/2022, os ministros encerraram as atividades do plenário no início da noite”, diz o relatório da Polícia Federal.
Na ocasião, Lula estava em São Paulo, participando da 9ª edição da Expocatadores, evento promovido por catadores de materiais recicláveis, também conhecido como “Natal dos Catadores”.
Geraldo Alckmin estava em Brasília, em um encontro com governadores organizado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e pela organização não-governamental (ONG) Todos Pela Educação.
Alexandre de Moraes também estava na capital federal. Naquele dia, o ministro comandou uma sessão da Corte e, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), participou de uma audiência em que recebeu o Prêmio Transparência e Fiscalização Pública 2022.
- Quem estava no carro do Exército que teria sido usado no plano?
A Polícia Federal mostrou, no relatório que teve quebra de sigilo, que um carro oficial do Exército, pertencente ao Batalhão de Ações de Comandos (BAC), teria percorrido no dia 15 de dezembro de 2022 a mesma rota que um dos militares presos, o que indica “um deslocando em conjunto”, segundo a PF.
O veículo era um Fiat Palio que se deslocou entre Goiânia e Brasília nesta data.
A investigação aponta ainda que encontrou “indícios de que o aparato público-militar foi utilizado na empreitada criminosa”.
Segundo o relatório da PF, era possível ver que ao menos duas pessoas estavam no carro, mas não foram identificadas.
- Outras pessoas tinham conhecimento do plano?
Além de Mario Fernandes e Mauro Cid, também tenente-coronel e ex-assessor de Jair Bolsonaro, o policial federal Wladimir Matos Soares e os tenentes-coronéis Hélio Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira e Rodrigo Bezerra de Azevedo estavam diretamente envolvidos no plano e foram presos pela autoridade na operação deflagrada ontem (19).
Além deles, outros nomes também são citados na investigação, como o do ex-ministro Walter Braga Netto.
A PF diz que Moraes passou a ser monitorado pelos militares em novembro de 2022, depois de uma reunião realizada na casa de Braga Netto, que foi candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro (PL) na eleição daquele ano.
Um dos trechos da decisão de Moraes sugere que outras pessoas podem ter tido conhecimento do plano: “os interlocutores indicam que estariam arregimentando mais pessoas do Rio de Janeiro para apoiar a execução dos atos”.
- Quem era “Juca”, outro alvo dos criminosos?
Lula, Alckmin e Moraes, eram chamados pelos codinomes Jeca, Joca e Professora, respectivamente, pelos criminosos.
No entanto, a investigação revela que os militares teriam mais um alvo, denominado “Juca”. Os investigadores, porém, não identificaram quem seria a quarta vítima do grupo criminoso.
“Houve, ainda, a utilização do codinome JUCA, citado como “iminência parda do 01 e das lideranças do futuro gov”, de modo que sua neutralização desarticularia os planos da “esquerda mais radical”. A investigação, no entanto, não obteve elementos para precisar quem seria o alvo da ação violenta planejada pelo grupo criminoso”, diz a investigação.
Fonte: CNN Brasil